Sessão Solene em comemoração aos 163 anos de Queimado

Sessão solene pelos 162 anos de Queimados - Foto Acessória Comunicação Dep. Professor Roberto Carlos
Sessão solene pelos 162 anos de Queimados - Foto Acessória Comunicação Dep. Professor Roberto Carlos

No dia 16 de março de 2012, às 19 horas, na Assembléia Legislativa do Estado do Espírito Santo, o Deputado Estadual Professor Roberto Carlos (PT-ES), promove uma sessão solene em comemoração aos 163 anos da Insurreição de Queimado. Durante a sessão serão homenageadas 06 personalidades negras do mundo do samba com a Comenda Chico Prego.

A comenda Chico Prego é concedida pela Assembléia a personalidades ou entidades que se destacam na luta contra a discriminação racial e na defesa da causa da população negra. Receberão a comenda os sambistas: Carlos Augusto Vieira, o Lajota;  Edson Rodrigues Nascimento, o  Edson Papo Furado; Alvimar Sales Guimarães, o Detefon; Luiz Carlos Xavier Silva; Aroldo Rufino de Oliveira; Aloísio Abreu, o Parú. Todos integrantes de escolas de samba de nosso estado.

“Queimado representa a capacidade do povo negro se organizar, resistir e lutar contra tudo aquilo que o engana, subjuga e escraviza. O samba é uma forma de fazer perdurar um traço marcante da cultura negra e nossos homenageados são expoentes que asseguram a disseminação dessa cultura”. Afirma Roberto Carlos.

“INSURREIÇÃO DE QUEIMADO” – UM MARCO DA LUTA PELA LIBERDADE DE UM POVO EXPLORADO”.

São José do Queimado é um distrito do Município da Serra, Espírito Santo. Fica no sudeste do Município e atualmente abrange uma área de cerca de 77 Quilômetros quadrados. A região onde, está situado já pertenceu aos municípios de Vitória e Santa Leopoldina. O local recebeu esse nome por ser um lugar de altas temperaturas e por ocorrer muitas queimadas.

No ano de 1894, foi palco de uma histórica rebelião. No dia 19 de março de 1894, data que tem grande significado no calendário da cultura negra, aconteceu a “Insurreição de Queimado”, revolta que marcou a história afro-brasileira. Apesar de poucos registros sobre o assunto, a data é lembrada e celebrada, principalmente no Estado do Espírito Santo, onde ocorreu o grito de liberdade dos negros escravos.

Principal, movimento contra a escravidão ocorrido no Espírito Santo na época do Brasil Imperial. A Insurreição de Queimado é o resultado da construção de um processo político de conquistas. Um fato, que resultou na interpretação de uma promessa que não foi cumprida. Estourou numa grande revolta pela liberdade. Uma promessa de liberdade, feita pelo frei italiano Gregório José Maria de Bene.

Igreja de Queimado - Acervo Arquivo Publico do Espirito Santo
Igreja de Queimado - Acervo Arquivo Publico do Espirito Santo

O missionário capuchinho italiano, não aceitava a escravidão, ele não concordava com os grandes fazendeiros, que exploravam a mão de obra escrava para trabalhar nas lavouras de café, milho e outras culturas. Por não está de acordo com tal situação, frei Gregório uniu-se com os escravos. União essa que, contrariava os grandes fazendeiros, mas estava de acordo com os seus interesses políticos de construir uma igreja na região.

Diante de sua insatisfação e não aceitação da escravidão, o frei Gregório teve uma idéia. Como ansiava pela construção de uma grande igreja no povoado de São José do Queimado e já havia lançado a pedra fundamental da igreja em 15 de agosto de 1945. O missionário capuchinho, conclamou os negros a participarem da construção da obra da tão sonhada igreja. E em troca teria garantido a negociação da alforria com os donos de fazenda. Há, quem diz que o frei não prometeu nada, só disse que iria interceder junto aos fazendeiros para obter a concessão da alforria.

Perante tal fato, há quem pense que a expressão “conto do vigário”, se originou da atitude do frei Gregório. Mas, tal idéia é falsa, na verdade a expressão “conto do vigário” refere-se a um “falso” padre que começou a pedir dinheiro a várias pessoas, numa cidade do interior do Brasil. Porém, alguns historiadores, como o Wilson Lopes de Rezende, em sua obra, “A Insurreição de 1849 na Província do Espírito Santo”, tece elogios ao frei Gregório José Maria de Bene. O historiador diz que o padre foi um desses heróicos missionários catequistas que eram contra a escravidão. Mas, no dia 20 de março o frei Gregório, foi preso pela força policial e expulso do Espírito Santo.

O fato é que o não cumprimento do que foi interpretado como promessa deflagrou uma rebelião. Relatos de descendentes dos sobreviventes apontam que mais 300 homens, mulheres e crianças demonstraram o seu inconformismo. Afinal, a igreja foi entregue pronta antes do dia de São José, conforme o combinado e resultou de muito tempo de um árduo trabalho. Conta-se também que a igreja foi construída com pedras divididas em vários tamanhos, carregadas por longas distâncias e subidas íngremes; as pedras pequenas do tamanho de um punho eram carregadas por crianças, muitas tinham apenas seis anos de idade.

A revolta teve como principais participantes, o líder Eliziário Rangel denominado, (Zumbi da Serra). Ele chefiou o motim. Escravo de Antônio Alvarenga Rangel destacou-se por sua inteligência, já que o Faustino Rangel lhe proporcionou a oportunidade de ler e de aprender o oficio de carpinteiro. Estava sempre reunido com frei Gregório e dele recebia ensinamentos religiosos e ideais de liberdade.

Durante a rebelião, foi preso e fugiu misteriosamente da cadeia de Vitória. Foi nomeado pelos negros que almejavam a liberdade, como um herói. E sua fuga misteriosa, era contada em versos e prosa com um “milagre de Nossa Senhora da Penha”. Segundo conta alguns historiadores, Eliziario fugiu com um grupo de negros. Esconderam-se nas matas do Mestre Álvaro e no Morro do Mouchuara, em Cariacica e montaram neste local um acampamento. Aonde, o Líder Eliziário veio a falecer.

Outro líder que se destacou foi o escravo, Francisco de São José (Chico Prego). Escravo de Ana Maria de São José, o seu apelido vem de Francisco = Chico e Prego tinha o sentido pejorativo, pois se referia a uma espécie de macaco da região do Amazonas. Enquanto, o líder Eliziário destacava-se por sua inteligência, o líder Chico Prego se destacou por sua coragem e pelo seu espírito de luta. Foi preso e condenado a forca.

O Projeto Chico Prego, foi apresentado pela primeira vez, na Câmara Municipal da Serra, pelo seu autor, o Vereador Edivaldo C. Dias da Mata, no dia 11 de maio de 1995 e recebeu o Nº 028/95. O Projeto consiste em incentivo fiscal para a realização de Projetos Culturais nas áreas de música, dança, teatro, literatura, cinema, vídeo, artes plásticas, folclore, ciências sociais, museus e associações culturais. Sendo beneficiada pessoa física ou jurídica, domiciliado no Município da Serra no mínimo há dois anos.

Justificando o nome de Chico Prego dado ao Projeto, o então Vereador Edvaldo relata:

“… Daí nossa homenagem a “Chico Prego” – escravo refugiado do Quilombo de Queimado que na luta pela liberdade, desafiou a Igreja e os patrões quando exigiu o cumprimento da proposta de que ao final da construção da Igreja de São José do Queimado receberia a alforria – a proposta não foi cumprida, o que ocasionou uma rebelião iniciada na Serra e que culminou na prisão e morte de vários líderes, entre eles, “Chico Prego”, que foi enforcado onde hoje está construída a Praça Ponto de Encontro, na sede do Município. Por esse exemplo de coragem e de luta, bem como pelo resgate da memória cultural e histórica do Município é que nosso projeto reconhece os escravos e especialmente “Chico Prego” como precursores da Cultura Serrana.”

João Monteiro, o João da Viúva. Escravo de Maria da Penha de Jesus, viúva de Monteiro. Também foi um dos líderes e condenado á pena de morte. Durante o seu julgamento disse ser inocente, e que o culpado era o frei Gregório de Bene, que prometera liderar o movimento de liberdade e no momento mais importante, escondera-se dos negros. Suas declarações foram relatadas por carta, pelo cônego Francisco Antunes Siqueira, advogado nos autos do processo, ao presidente da Província, Felipe José Pereira Leal, em 10 de janeiro de 1850.