Observações sobre o projeto do novo Ensino Médio no Brasil.

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ensinomedio1A principal finalidade de um sistema educacional é viabilizar conhecimento científico necessário para a formação de seres humanos cuja bagagem intelectual permita desenvolvimento pessoal, tanto pelo aspecto cultural, quanto pelo aspecto profissional. Durante séculos essa premissa foi negada às classes menos abastadas, causando índices de desigualdade que perduram até os dias atuais.

De uns tempos para cá, a questão da cidadania foi amplamente discutida nos anais do sistema educacional, com ênfase na criação de meios de inclusão dos brasileiros no mercado de trabalho com o máximo de conhecimento e preparação técnica possível. Os índices indicativos que fazem a relação entre desenvolvimento cidadão e educação mostram o porquê dessa disparidade social. O acesso difícil e as penúrias da manutenção dos alunos nos bancos escolares deixaram de ser uma mera preocupação estatal, passando a ser objeto de discussão de toda a sociedade civil.

O corpo discente carece de elementos que favoreçam e facilitem seu acesso ao sistema educacional, garantido por lei, mas dificultado pelas nuances sociais, assim como carece de mecanismos que evitem o abandono e a evasão a titulo de necessidade de ser inserido, precoce e despreparado, no mercado de trabalho.

Já o corpo docente carece de capacitação profissional e melhor remuneração de seus serviços, compatíveis ao menos com os gastos em esforço e financeiros despendidos no processo de sua formação, além de autonomia para transformar suas salas de aula em campos de pesquisa para novos paradigmas pedagógicos que venham substituir os já ultrapassados que usamos.

Os alunos da escola na qual leciono, EEEFM AntonioEngrácio da Silva, situada no bairro Feu Rosa, em Serra e que fazemensino medio parte do Ensino Médio na modalidade Educação de Jovens e Adultos, o EJA, por exemplo, são submetidos, em sua maioria, a uma fatigante rotina que vai desde as primeiras horas do dia, quando se levantam para trabalhar, até tarde da noite, quando deixam as salas de aula, já exaustos e sem perspectivas de aproveitamento concreto dos ensinamentos passados. Ao corpo docente essa rotina também é comum, professores que lecionam em três turnos para que a remuneração acumulada lhe traga o devido conforto já não conseguem manter o ritmo necessário para o bom entendimento dos alunos, e por ai vai.

Essa dicotomia entre mercado de trabalho e sistemas educacionais faz necessária a universalização do ensino médio, cuja premissa seria a formação integral do cidadão e sua preparação para o mercado de trabalho concomitante com a preparação para a convivência social harmônica. Para tal, projetos educacionais possíveis, tanto do ponto de vista teórico e prático, quanto do ponto de vista dos investimentos deveriam ser articulados em grandes grupos de formação mistos, que contariam com representantes do Estado, do corpo docente, do corpo discente e de membros das comunidades atendidas pelas instituições de ensino, afim de que se adeque os projetos à realidade do público a ser atingido.

Levar em conta as regionalidades, a cultura, os costumes, as classes sociais, o nível de escolaridade e as dificuldades que porventura se encontre não será uma tarefa de pouca monta. Trata-se de um esforço coletivo e diferenciado, capaz de mudar a realidade de regiões inteiras através de projetos educacionais adaptados às suas realidades étnicas, sociais, religiosas, econômicas e que perfariam instrumentos de inclusão social através da disseminação das premissas comuns, respeitando-se as premissas regionais e individuais.

O ensino médio é um elo poderoso, capaz de dar continuidade às fases anteriores do ensino e capacitar o alunato aos outros níveis de formação acadêmica, devendo, para isso, estar dentro dos parâmetros impostos pelo mercado de trabalho neo liberal para a inserção e a ascensão no mesmo. Projetos que comunguem as disciplinas integradas, que garantam ao professor mecanismo de atenção, que garantam ao aluno o lugar de agente, que o remova da passividade no processo educacional e o releve a modificador de sua própria realidade fazem-se necessários e indispensáveis. Não são leis que viabilizarão essas mudanças, mas as práticas pedagógicas e as pesquisas dos pioneiros, espalhadas por todo o nosso território, que nos mostrarão os caminhos certos. O tempo urge.