Durante minhas duas décadas de magistério, venho me deparando com o sucateamento do sistema educacional, seja ele em questões estaduais ou municipais. A Serra é um dos municípios mais perigosos do Brasil, isso é fato, como também é notória a falta de interesse das autoridades para que esse quadro sofra boas mudanças. A solução? Programas Sociais na área esportiva, como os antigos projetos de escolinhas de esportes variados que conjugavam a presença dos alunos ao seu desempenho escolar, fosse na assiduidade ou nas notas.
Pergunto-me: por que isso foi desativado?
Em 2008, fiz uma pesquisa na comunidade onde morava, Serra Dourada, sobre esse assunto. Aferi que, durante a existência prática dos projetos esportivos, como o antigo time da Ferroviária, que exigia dos seus atletas bom desempenho escolar como premissa para estar no time, o índice de mortes e envolvimento no tráfico de drogas de adolescentes entre 13 e 19 anos era quase nulo. Era como uma comunidade pacificada, por que o esporte tem esse poder: o de dar escolhas ao jovem, de mostrar mais caminhos que não o do crime, de ressocializar.
Hoje, sem esses programas e projetos ( ainda que alguns sobrevivam, a ostentação do tráfico gera mais idolatria que o futebol), o índice de jovens e adolescentes que se envolvem com o tráfico e perdem a vida nesse processo é altíssimo e alarmante. Pois bem, professor, e o papel da escola nisso tudo? me perguntariam os críticos de plantão. Sinto muitíssimo em constatar esse fato cruel, mas a educação básica, aquela baseada nos valores familiares, o respeito aos mais velhos, aos mestres, às regras, é hoje uma espécie em extinção. Tenho contato com uma juventude cuja fome de consumismo inverte valores, cujas figuras paterna e materna foram transfiguradas em meros provedores de necessidades, nem sempre básicas, cujos professores se tornaram mendigos, tanto nos salários quanto no controle de salas cada vez mais permissivas e mais parecidas com as antigas lanhouses, devido ao grande número de alunos acessando redes sociais via celular enquanto os professores tentam lecionar.
Temos a honra de ter um Secretário estadual de Esportes nascido na Serra, e eu pergunto:
Senhor Vandinho Leite: o que fica mais barato. Criar ou reimplantar esses projetos sociais na área esportiva, ou gastar fortunas com abrigos para menores infratores, clínicas públicas de reabilitação e afins???? O que é mais prazeroso para um pai de família: sair aos domingos para ver o filho disputar um torneio esportivo ou receber a notícia de que ele foi morto ou preso ou assassinou outro pai de família em um latrocínio? Acredito na melhor resposta e na melhor solução.
Fábio L. A. Borges é professor de história e morador da Serra.