Trinta e quatro anos depois de publicado (1980), o livro “Presença”, de Judith Leão Castello Ribeiro (Serra, 31/08/1898-Hospital Beneficência Portuguesa, Rio de Janeiro, 23/03/1982) está de novo ao alcance de quem tiver interesse, na forma de uma reedição, organizada pela professora Ester Abreu Vieira de Oliveira. A obra original é composta principalmente por artigos escritos por Judith, muitos deles para jornais, mas também inclui discursos e ementas de projetos que ela apresentou quando deputada estadual, muitos dos quais surtem efeito até hoje.
A republicação de “Presença” é o assunto da sessão solene da Câmara Municipal da Serra marcada para 25 de setembro (quinta-feira), às 19 horas. Na programação, apresentação da Banda de Congo Mirim Konshacinha, de Santo Antônio (bairro da Serra-Sede); exibição de um documentário sobre Dona Judith, de autoria de Suzi Nunes; fundo musical por um trio de violino, saxofone e teclado; e a tradicional sessão de autógrafos.
Na solenidade propriamente dita, falarão o presidente da Câmara, Carlos Augusto Lorenzoni; a autora da reedição, Ester Abreu; e o sobrinho da homenageada, João Luiz Castello Lopes Ribeiro, guardião do patrimônio dela por designação pessoal. A Câmara da Serra fica na Rua Major Pissarra, na Serra-Sede.
Viabilizada pela Lei Chico Prego (nº 2.204/99, de incentivo à cultura do Município da Serra), a reedição recebeu o nome de “Presença de Judith Leão Castello Ribeiro”. Contém a versão integral (em fac-símile) do “Presença” original e mais 78 páginas com estudos sobre Judith, inúmeras opiniões sobre o livro, muitas delas de destaques literários e políticos nacionais, além de artigos atuais de pessoas que conviveram com ela.
Judith Castello foi uma mulher muito adiante de seu tempo, sendo vista hoje como ícone das lutas femininas, embora não haja notícia de que em algum momento tenha classificado a si mesma como “feminista”. Numa época ainda muito difícil para as mulheres (meados do século passado), conquistou pelo menos quatro “títulos” de “primeira mulher”:
·1ª mulher deputada estadual no Espírito Santo: tomou posse pela primeira vez em 29/03/1947 e foi reeleita outras três vezes consecutivas.
·1ª mulher a receber a Comenda Jerônimo Monteiro (1979) no grau máximo (comendadora).
·1ª mulher a entrar na Academia Espírito-Santense de Letras (posse em 10/09/1981), até então reduto masculino, sendo preciso modificar seu estatuto para que Judith pudesse entrar. O livro “Presença” foi feito para dar mais consistência ao pedido de ingresso dela.
·1ª presidente (uma das fundadoras) da Academia Feminina Espírito-Santense de Letras (julho/1949). Renunciou alguns meses depois devido à sobrecarga, pois estava no auge como deputada estadual.
O espírito empreendedor e desbravador Judith trouxe do berço, pois sua linhagem familiar inclui inúmeros personagens marcantes da história capixaba, notadamente na Educação, na Justiça e na Política. Judith foi professora durante parte significativa de sua vida, principalmente no Colégio São Vicente de Paulo, tido como modelar em todo o país, fundado por três de seus tios.
Explica a autora da reedição, Ester Abreu: “Precisamos resgatar a figura de Judith, este extraordinário modelo de comportamento, de dedicação, de amor! As pessoas que nasceram nos últimos 30 anos não têm como saber disto, porque a sociedade esquece das pessoas depois que nos deixam… Então, espero que esta republicação de ‘Presença’ possa dar ideia de quem foi Judith. Não podemos deixar que uma figura tão extraordinária, tão exemplar, continue assim esquecida!”
A organizadora da reedição
Natural de Muqui (ES), Ester Abreu Vieira de Oliveira é mestre em Língua Portuguesa (Pontifícia Universidade Católica do Paraná, 1983), doutora em Letras Neolatinas (Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1994) e pós-doutora em Filologia Espanhola: Teatro Contemporâneo (Universidad Nacional de Educación a Distancia, Uned, Madri, Espanha, 2003).
A graduação, também em Letras Neolatinas, obteve na Ufes (Universidade Federal do Espírito Santo), de 1956 a 1960, se especializando em Filologia Espanhola, em Madri, oito anos depois. Professora da Ufes desde 1965 (Professora aposentada em 1996), ainda atua no seu “Mestrado em Estudos Literários”, lecionando, orientando teses de alunos ou participando de bancas examinadoras.
Até hoje Ester é muito requisitada em várias partes do mundo para eventos (palestras, seminários, cursos, etc.), sobre a literatura espanhola. Seu nome está vinculado a pelo menos 70 livros, de sua autoria ou coletâneas, e não para de produzir artigos para jornais e revistas especializadas, crônicas e outros tipos de textos.
Participa de várias entidades literárias, se destacando a Academia Espírito-Santense de Letras (Cadeira 27); a Academia Feminina Espírito-Santense de Letras (Cadeira 31), de que já foi presidente várias vezes; o Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo (IHGES); a Associação Brasileira de Hispanista e a Asociación Internacional de Hispanista.
Fonte:Texto: Maurilen de Paulo Cruz
Fotos: site da CMS