Ouvi, de um parceiro nas quadras de tênis, Alceu, formando em arquitetura, uma teoria interessante sobre a relação entre a especulação imobiliária e o crescimento da criminalidade nas grandes cidades. Trata-se de um raciocínio quase lógico, que representa as relações familiares e seu ambiente particular, as moradias populares, e a inquietude da juventude atual:
Teoriza meu amigo Alceu:
Dê uma olhada nas metragens das residências modernas, sejam elas em condomínios fechados ou unidades de programas de construção de moradias financiadas pelo governo: São, ou estão, cada vez menores, muitas com, aproximadamente, 40, 50 metros quadrados. Agora encaixe uma família de classe baixa típica brasileira, que tem, em média, 4 a 5 pessoas. Feito isso, divida este espaço per capita, por morador da unidade. O espaço físico de cada uma vai chegar, no máximo, a 10 metros quadrados por pessoa, isso sem subtrair os espaços comuns, como sala, corredor, cozinha, banheiro e área de serviço, se esta existir, onde as pessoas não costumam ficar, ao menos em situações específicas.
Agora imagine um adolescente, no auge de sua inquietude, convivendo com toda a família, aos sábados ou aos domingos, com divergências causadas por essa convivência estreita, não por opção. Conflitos de gerações, conflitos por privacidade, pelo controle remoto da TV, pelo uso do único computador da casa, com os irmãos… Quais atitudes você acha que ele tomará?
Simples: ele vai para as ruas, onde seu espaço é, teoricamente, ilimitado, onde encontrará pessoas de sua idade, com os mesmos conflitos e inquietudes, pessoas que comungam de sua revolta quanto à situação e que, muitas vezes, tem um “paliativo” para esses problemas: As Drogas e a criminalidade! As drogas lhes permite “desplugar” de seus questionamentos, enquanto o dinheiro fácil do crime, seja ele roubo, furto, assassinato, tráfico de drogas e outros mais, lhe cria a possibilidade de adquirir uma quantidade de bens de consumo aos quais ele não tem livre acesso, e até mesmo uma casa maior, mais luxuosa e, o que é melhor: só dele.
É certo que essas moradias, por serem construídas com material de pouca qualidade, em lugares sem infraestrutura, cabem nos bolsos desses moradores, mas criam, em contrapartida, um fenômeno já ocorrido nos EUA nos anos 70: a formação de Guetos.
Alceu, me permita a licença poética de ter esticado sua teoria e elaborado uma tese mais complexa, mas a sua ideia é sensacional, seu argumento é de uma consistência antropológica muito interessante. Obrigado, camarada, por ter assinado esse artigo junto comigo.
PS : Alceu ficou de mandar, por mensagem de celular, o seu sobrenome, mas ficou me devendo. Fica o registro, simples, da sabedoria que se encontra em todo o lugar, e que merece ser melhor aproveitada!